Texto publicado originalmente:
Com atraso de alguns meses, a comunidade de São Bento tomou conhecimento do Projeto de Lei nº0405.7/2011, de autoria do deputado Carlos Chiodini (PMDB/Jaraguá do Sul), que tramita na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e que propõe, simplesmente, a alteração do nome do trecho da Serra Dona Francisca entre Pirabeiraba e Campo Alegre para “Vereador Arno Krelling”. O personagem homenageado teria sido pessoa de destaque e importância para o distrito de Pirabeiraba, o que ninguém questiona.
É preciso lembrar que já existe uma Rua Vereador Arno Krelling, e que inclusive faz entroncamento com a Estrada Dona Francisca na saída do Loteamento Bromélias, em Pirabeiraba. Não achando suficiente essa homenagem, o nobre deputado pretende que ela seja estendida para toda a histórica Serra Dona Francisca. É aí que o bicho pega, e a revolta da comunidade de São Bento do Sul nas redes sociais é um evidente sinal do absurdo da proposta, que agora passa a sofrer, com razão, intensa pressão.
Não vou entrar no mérito das motivações que o deputado Carlos Chiodini teve para fazer a sugestão, e que, provavelmente, dizem respeito a muita coisa, menos à memória, ao patrimônio histórico e ao turismo regional. Mas não é preciso muito esforço para avaliar que a justificativa apresentada para a alteração, com todo respeito à trajetória do vereador, não tem a menor comparação diante da história da Serra Dona Francisca.
E essa importância histórica não diz respeito meramente a Joinville, Pirabeiraba ou Campo Alegre, mas também a São Bento do Sul, Rio Negrinho, Mafra e Rio Negro, trajeto total da Estrada Dona Francisca, e cidades que devem muito do seu desenvolvimento econômico ao longo dos anos a este mesmo trecho que hoje se pretende modificar o nome.
Posso falar especificamente de São Bento. Foi pela Estrada Dona Francisca que os primeiros imigrantes partiram de Joinville, a pé ou no lombo de burros, para fundar a Colônia de São Bento. Foi, ainda, na construção dessa mesma estrada que eles arrumaram emprego naqueles primeiros tempos.
A serra também foi palco de momentos dignos de nota envolvendo são-bentenses, como o levante armado de imigrantes que foram até Joinville protestar contra as condições da colônia, ou ainda uma procissão que a percorreu totalmente até chegar em Joinville, para espanto dos moradores.
Naturalmente, também é preciso falar do transporte de erva-mate e outros produtos, feito pelos “carroções de São Bento”, ou “São Bentowagen”, e que eram veículos de capota branca, com toldo de lona, puxados por seis ou oito cavalos, e que por muito tempo se fizeram presente no transporte de mercadorias até Joinville, sendo ainda hoje bastante lembrados.
E assim poderiam ser elencadas uma série de outras razões, vindas de todas as cidades cortadas pela Estrada, sem mencionar ainda o prejuízo que a mudança representa para os roteiros culturais e turísticos de Santa Catarina. Trata-se, sem dúvida, de um patrimônio para o estado, e o Projeto de Lei é tão despropositado como seria se sugerisse a alteração no nome da Ponte Hercílio Luz, da Serra do Rio do Rastro, e se duvidar até do Parque da Malwee, pra ficar na terra do deputado mesmo.
E quem foi essa tal de Dona Francisca?
Dona Francisca é, na verdade, o nome da princesa Francisca Carolina Joana de Bragança, irmã do imperador Dom Pedro II. Quando se casou com o príncipe Francisco Fernando de Orleans, herdeiro do trono da França, Francisca recebeu como dote, além de muito dinheiro, 25 léguas quadradas de terras em Santa Catarina, e que ficavam, justamente, no atual território de Joinville. O casal, no entanto, viajou para a Europa e Francisca jamais conheceu seu presente. A coroa francesa preferia as terras próximas da Guiana Francesa.
Tramitação do Projeto
O projeto foi apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Alesc, e recebeu voto favorável do seu presidente, deputado José Nei Alberton Ascari (Dem/Grão-Pará). O deputado Dirceu Dresch (PT/Saudades) pediu vistas do processo, iniciativa que impediu que o projeto fosse aprovado na Comissão.
Atualmente, o projeto está sendo apresentado para a sociedade pelo deputado, para só então ser submetido a nova votação em que, se espera, seja rejeitado o parecer favorável do relator.
O deputado são-bentense Sílvio Dreveck (PP) assumirá em breve uma cadeira na Comissão de Constituição e Justiça da Alesc. É de se esperar que, como representante dos interesses da nossa cidade, não deixe passar batido a proposta, mas que, ao contrário, se posicione veementemente contra ela. É importante que ele e os demais deputados da região e da comissão sejam pressionados para igualmente rejeitarem o infeliz projeto.
Fonte: site São Bento no Passado/autoria Henrique Fendrich/em 08/03/2012
Fonte: site São Bento no Passado/autoria Henrique Fendrich/em 08/03/2012
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